domingo, 5 de julho de 2009

Atirados para os lares: O drama de chegar à terceira idade…



Solidão e abandono. Chegar à terceira idade é, hoje, um verdadeiro drama... Há histórias de vida verdadeiramente tristes de quem tanto deu à sociedade e que, agora, se depara com um resto de vida de quase clausura. Os idosos são atirados para os lares... E por mais que se defenda que os idosos são muito bem tratados nos lares, o simples facto de terem sido obrigados a ficar sem a família é, por si só, um sofrimento que só eles conseguem classificar. O Correio dos Açores apresenta três casos de vida que espelham bem o drama que é chegar à terceira idade. Os idosos não são trapos, mas muitas vezes são tratados como tal. Atirados para os lares, ou porque não têm quem cuide deles ou porque a vida ocupada da família assim o obriga, os mais velhos da nossa sociedade, também ela cada vez mais envelhecida, vivem autênticos dramas, que vão desde a solidão à incapacidade física, passando pelo medo e pela insegurança. Há histórias de vida verdadeiramente tristes de quem tanto deu à sociedade e que, agora, se depara com um resto de vida de quase clausura. E por mais que se defenda que os idosos são muito bem tratados nos lares, o simples facto de terem sido obrigados a ficar sem a família é, por si só, um sofrimento que só eles conseguem classificar. O Correio dos Açores apresenta três casos de vida que espelham bem o drama que é chegar à terceira idade. Por exemplo, Maria tem dois filhos e vivia até há pouco tempo com um deles, que agora vai emigrar. O outro filho desta idosa não tem as mínimas condições para cuidar da mãe, que se encontra internada no Hospital de Ponta Delgada depois de ter sido vítima de um grave problema de saúde. Agora, a idosa está à espera de vaga numa instituição de acolhimento, não sabendo ao certo se vai para um lar, para um cuidador privado ou para um família de acolhimento. Maria já teve alta médica, mas ainda não teve aquilo a que se chama de alta social. Ou seja, não tem para onde ire enquanto a situação se mantiver vai ficar internada no hospital de Ponta Delgada. Já Conceição, que perdeu o marido há pouco tempo, não tem filhos. Agora, aos 87 anos também está na iminência de ir parar a um lar. Por mais que diga que ainda tem forças para continuar a fazer a vida sozinha, esta idosa adoeceu pouco depois do marido ter falecido e não consegue andar sem a ajuda de uma bengala porque as pernas já não ajudam. Encara a ideia de ir para um lar como muito triste, mas também diz que é a única solução, porque não tenho mais ninguém. João António, também já passou a casa dos 80. Tem apenas um filho, mas a vida agitada não permite que ele continue a cuidar de mim. Por isso, também ele terá de ir para um lar, por mais que me custe e por mais triste que seja. Estes são apenas três casos entre centenas. Histórias tristes de gente que deu tudo pela vida e que, agora é atirada para um lar, ali ficando entregue à sua sorteIsto sem falar nos casos dos idosos que a família esqueceu no lar Rede de apoio social Envelhecer não é virar trapo, mas é precisamente assim que muitos idosos são tratados nos tempos desenfreados que correm. Chegar à terceira é apenas entrar noutra fase diferente da sua vida. E é nesta nova e derradeira fase da vida que se torna necessário um acompanhamento também diferente. Os idosos, sobretudo aqueles que têm mais carências, devem ser acompanhados por redes de apoio social, cuja principal missão é ajudar a ultrapassar os vários problemas com que se confrontam, como os cuidados básicos de saúde e higiene, a situação financeira e até a solidão. Estas redes devem, paralelamente, intervir ao nível social e educativo, o que passa, sobretudo, pela animação na terceira idade. E a animação tem uma função cultural, psicossocial e terapêutica, com vista a proporcionar uma velhice mais digna e de valorização do idoso. É precisamente isso que se pretende com a rede de cuidados continuados, criada pelo Governo açoriano e aprovada recentemente pelo Parlamento. O decreto está actualmente nas mãos do representante da República e, assim que for assinado, será publicado para entrar imediatamente em vigor, como garantiu ao Correio dos Açores o secretário regional dos Assuntos Sociais. Do hospital para o lar Com a criação desta rede, que segundo Domingos Cunha, pretende dar mais atenção ao problema da terceira idade, os idosos, as pessoas com perda de funcionalidades e os doentes terminais vão passar a receber apoios específicos. A rede de cuidados continuados tem como objectivo garantir a coordenação das áreas da Saúde e da Acção Social para potenciar "soluções enquadradas e adequadas" aos doentes dependentes. Com a criação da rede procura-se garantir mais "autonomia" aos doentes, quer em termos de cuidados de saúde, quer em termos de apoio social. A rede de cuidados continuados será constituída por "unidades e equipas de cuidados continuados de saúde, e ou apoio social, que garantam acções paliativas, além do que abrangerá as unidades de saúde e os serviços locais de acção social. Segundo Domingos Cunha, a ideia de criar a rede de cuidados continuados surge devido ao "incremento de patologias crónicas múltiplas" ou de dependência funcional, que obrigam a encontrar soluções adequadas e eficazes para a prestação dos cuidados de saúde. A autonomia dos utentes A rede, como adianta o secretário dos Assuntos Sociais, vai permitir articular a intervenção dos sectores da Saúde e da Segurança Social com o objectivo de promover a autonomia dos utentes. Além de pessoas com dependência funcional transitória ou prolongada e idosos com fragilidade, a rede de cuidados continuados vai abranger ainda pessoas com incapacidades graves ou doença em fase avançada ou terminal. O acesso ao novo serviço será feito tendo por base os relatórios das unidades de saúde, Instituto de Acção Social ou entidades reconhecidas para esse fim, que os submetem à apreciação da entidade coordenadora de ilha (serviços locais de acção social). A proposta aceite define a prioridade de cada utente e serão tidas em conta questões como a necessidade dos cuidados continuados, situação de carência económica, ausência de suporte familiar e situação de doença dos familiares que impossibilite o apoio. O Governo, como refere Domingos Cunha, vai privilegiar, em primeiro lugar, os apoios domiciliários. Neste sentido, o executivo já promoveu a formação específica de mais de 60 médicos, enfermeiros e técnicos de reabilitação. Da rede de cuidados continuados fazem parte os onze centros de saúde do arquipélago, duas unidades de ilha (São Jorge e Pico) e os três hospitais açorianos (Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta), além do Centro de Oncologia dos Açores e dos três centros geriátricos da região. Estes últimos centros pertencem às Santas Casas das Misericórdias de Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta, com as quais o Governo vai assinar um protocolo sobre o número de camas a disponibilizar. Os cuidados continuados Os serviços a implementar pela rede são prestação de cuidados em Unidades de Tratamento, Equipas Hospitalares e Equipas Domiciliárias. As Unidades de Internamento estão divididas em Unidades de Média Duração e Reabilitação (UMDR), Unidades de Longa Duração e Manutenção (ULDM) e Unidades de Cuidados Paliativos (UCP). Nas UMDR, ficarão os utentes que necessitem de cuidados previstos entre 30 e 90 dias consecutivos e nas ULDM os que necessitam de cuidados superiores a 90 dias consecutivos. O financiamento é assegurado pelos orçamentos da Saúde e da Segurança Social, bem como por 80 por cento das reformas dos idosos, à semelhança do que acontece nas Misericórdias. Quando o internamento se verifica nas UMDR, é o sector da saúde que suporta a maioria dos encargos, enquanto nas ULDM será a Segurança Social.

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